tres_ maresia - semana de muitas reflexoes. algumas sobre o brasil, mas outras muito mais levianas.
por exemplo, descobrir que se eu nao comprar coisas para comer em casa, minha fome nao vai ser saciada. acabei reparando que continuo com um vicio antigo de vivencia: ir no supermercado e comprar APENAS bebidas. nao as alcoolicas, mas aquele monte de chá gelado, sucos de caixinha e aguas com gostos. e isso porque temos agua filtrada da torneira de casa! entao fiz minha primeira incursao em uma lazanha congelada. in my whole life.
e sim, tenho trocentas milhoes de coisas contra lazanhas congeladas (vale um outro texto). mas foi bom, e sobrevivi. o espaco aqui em casa nao dá muito para extravagancias culinárias mas acho que estou caindo na rotina. - e isso agora é bom... pelo menos nao dá a impressao de se estar viajando o tempo todo.
esse é só um exemplo dos tipos de evolucao que uma pessoa que já mora a tres anos e meio fora de casa pode ter. outro exemplo muito prático é descobrir que sua casa tem poucos lugares para arrumacao, achar um armario no meio da rua e, com seus outros dois colegas, leva-lo ladeira acima. ganhamos um armario. nao é nada do qual eu me orgulhe, mas heck. jà fiz coisas piores. final da semana ainda deu origem a primeira sesao de lavagem de roupas. ja fiz isso varias vezes antes, mas ter que sair de casa para fazer isso é definitivamente uma tarefa ingrata.
sexta feira comprei um computador, mas nao fui com a cara dele desde o início. acho que ele nao vai durar muito. [edit]: como voces vao descobrir mais pra frente, ele durou exata uma semana.
foi o final de semana que reservou as melhores surpresas: finalmente ir para a praia e achar um pouquinho de sol no sábado, e domingo ir em mais um treino da regata - dessa vez, colocando a mao na massa e aprendendo pouco a pouco a fazer as coisas no veleiro do "seo" Antonio. fora isso, ainda teve a final da copa do mundo de rugby (que, felizmente, a inglaterra nao ganhou...) e, para coroar o final de domingo, a primeira sessao de cinema aqui em casa, angariando varios brasileiros daqui de Lisboa, para ver o mais recente sucesso: Tropa de Elite.
é como dizem por aí:
- voce tem certeza? - caveira, capitao.
dois_ segundas impressoes - dizem por aí que as piadas de portugues não existem - são todas histórias reais. e não posso deixar de admitir que a informação procede, as vezes... por exemplo, as ruas daqui tem pouquissimos lugares para se estacionar e é comum ver carros estacionados em cima das calçadas...
o que nao deixa espaço para os pedestres, que acabam andando na rua.
mas enfim. nao vou entrar no mérito da questão. se as piadas existem ou nao, é bom repararmos que piada é a falta de burocracia existente aqui para diversos serviços. a saber, comprei um chip de telefone celular e a moça sequer sabia meu nome; consegui o numero do meu CPF (aqui, o numero de contribuinte) em trinta minutos - o cartao oficial chega em trinta dias, plenamente aceitável perto dos seis meses do CPF brasileiro ou dos incriveis TRES ANOS para a chegada do cartão do SUS; por fim, abri uma conta no banco em nao mais do que 40min, sem comprovação de renda, e saí de lá com um cartão visa habilitado.
entretanto, quem tiver que fazer uma viagem ao exterior, recomendo uma nova alternativa que muita gente usa por aqui: visa travel money. é, basicamente, um cartão de débito pré-pago, que pode ser utilizado em qualquer lugar do mundo com depósitos a serem feitos em qualquer lugar do mundo. definitivamente, uma das melhores alternativas de dependência a distância, dando margem até mesmo a um melhor controle de seus gastos. nao sei se a mastercard oferece alguma rede similar, mas é visível que por aqui visa tem muito mais aceitação que a rede maestro.
treinei futebol de campo e futsal e, como esperado, fui dispensado de todos eles. preciso, definitivamente, achar alguma atividade física e/ou esporte a fazer nao apenas para manter o físico e praticar alguma coisa por aqui, mas por necessidade: o chuveiro da cidade universitária e da piscina da faculdade, a exemplo do chuveiro do CEPEUSP aí no brasil, é muito melhor que o de casa. o frio ainda nao começou a bater forte, mas a qualquer hora vai e, caiçara que sou, nao posso dar bobeira.
foi uma semana boa também para descobrir que, apesar de aprazível, Lisboa pode ser longe também as vezes. por exemplo, procurando meu computador rodei várias horas de metro para nao conseguir achar o que eu queria; e, voltando de uma balada, caí no conto do "vou voltar pra casa a pé" com o pedrão, que mora comigo. depois da segunda esquina eu já aceitava pegar um taxi (rachado em vários fica muito mais barato que sampa, o que também nao é dificil), fácil fácil.
o dia catorze reservou também a primeira ida à praia. aliás, desde que cheguei nao tirei o chinelo do pé. apesar deste ter sido o primeiro dia que não fez pleno sol o dia inteiro (mais tarde viria eu a saber que seria o unico em quase um mes), valeu por descobrir uma praia aqui perto. serei cativo, ainda que em períodos de frio.
é necessário ter um lugar para olhar e nao ver absolutamente nada.
um_ primeiras impressoes - o primeiro dia de aula foi, como se pode esperar, um saco - o que nao é nada do outro mundo, considerando que os ultimos meses no brasil foram de ócio. é engraçado como brasileiros, se não prestarem atenção, podem muito fácil nao entender uma palavra do que portugueses falam, ainda que seja a mesma língua. é preciso uma adaptação ao sotaque e, ainda assim, continuo com o bom e velho "ahn?" periodicamente.
mas os primeiros sintomas de portugal comecam a aparecer logo. as coisas aqui nao sao legais, são fixe ou gire. voce nao entende as coisas, voce percebe. não entendeu? não percebo. e, se voce está irritadinho... descontrai. e pode forçar o sotaque carioca que aqui "s" vira "x" mexmo.
como a galera já tinha chegado antes de mim, acabei conhecendo uma boa parte do pessoal por tabela, e cinco de outubro já estava na casa do Rubão ajudando ele a pintar o quarto. resultado: de noite teve apenas o melhor bacalhau da minha vida, feito pela irmã dele. custou menos que cinco euros e, sinceramente, nao havia nada de mais em sua preparação - o único segredo que eu posso supor seria a quantidade absurda de azeite, que é vendido em garrafas de um litro por um ou dois euros. ainda bem.
sábado foi dia de fazer o primeiro passeio turístico por aqui, ver o tejo de perto pela primeira vez e, de brinde, acabei achando os tumulos do camões, vasco da gama, fernando pessoa e alexandre herculano, lá no convento dos jeronimos. lá do lado é a fábrica de pastéis de belém, única no mundo a fazê-los - em qualquer outro lugar, o pastel é um mero pastel de nata ;) minha sincera opinião é de que ele é gostoso, sim, mas não é a cura da unha encravada. continuo com a busca.
e eu conheci a vodka :) (isso só é compreensível vendo a respectiva foto.)
rubão, que veleja a apenas dezoito anos, convidou a gente para ir numa regata com ele aqui no tejo, num barco que ele está na equipe há cinco anos. sábado o bebs já tinha ido, e um dia depois acabou sobrando um espacinho pra mim. acabei ficando só no visual, mas em breve começo a por a mão na massa - começando como trimmer e, quem sabe, aprendendo alguma coisa? o barco é do Antonio, professor de um outro campus do IST e, apesar da diferenca de idade ser visivel, todos foram muito prestativos. quem sabe isso nao rende novas histórias? :)
a história principal da regata fica, além do visual fenomenal, para o fato de todos os barcos terem abandonado a competição no final da regata por terem ficados presos numa corrente de fluxo na entrada do tejo - o que daria a vitória ao nosso barco - exceto um deles, que estava em outra categoria e, numa manobra um tanto quanto discutivel, continuou por mais algumas horas, pois uma decisao do dia anterior (e nao-comunicada aos outros participantes) havia concatenado as duas categorias.
só que a maré baixou... e quem nao conseguiu entrar na marina?
½_ mind games - admito que os primeiros dias foram bem ruins. ficar com a cabeça no brasil é natural, uma vez que foi isso que fiz pelos ultimos 21 anos. ainda nao estou perto de chegar ao tempo maximo que fiquei fora de casa - o quase-mes que passei no japao em 2005, competindo pela faculdade - mas tambem nao vai demorar muito para chegar.
o consenso geral, em algumas conversas que foram feitas por aqui (entre brasileiros, sim) é que na verdade estavamos, em nossas respectivas cidades natais, com as vidas organizadas, situações e acontecimentos correndo bem na medida do possível e sem motivo nenhum para simplesmente tentar algo de muito novo. poderíamos ter caído na mesmice, é verdade, mas convenhamos: em que parte da vida fazer uma mudança dessas não envolveria uma mudança total de pensamento?
o pacote era fechado: novas experiencias, alegrias, viagens e muitas vezes perrengues. nos seguimos pelo impulso, sim. mas se nao fosse dessa forma, dificilmente nossos caminhos teriam se cruzado e, é claro, nao saberíamos o que é estar aqui. seja para bem, e descobrir que o mundo é grande e as experiencias sao infinitas; seja para mal, para simplesmente aproveitar e, ao regressar, dar valor ao que deixamos de lado por alguns meses.
o que ganhamos? uma cidade agradavel e sossegada (que os proprios portugueses consideram caotica e movimentada. coitados, nao conhecem sao paulo...), com um bom sistema de transporte (que costumam ser bem pontuais) e sete benditas colinas, ou seja: minha panturrilha terá bastante trabalho nestes meses. isso cria fatos curiosos como, por exemplo, o da minha faculdade ser exatamente no mesmo nivel de casa, mas com um belo buraco no meio do caminho. nada que um teleferico nao faça.
zero_ liftoff - quatro da tarde do dia tres de outubro de dois mil e oito. a data deste post foi exatamente neste horário que, depois de: uma viagem de dez horas de são paulo a porto, um bobó de camarao, um filme do shrek e um sono meio torto em tres cadeiras, por sorte de um voo vazio; um bom tempo na fila da imigracao, mais outro bom tempo na alfandega, um certo tempo na fila da companhia aérea para descobrir que perdi minha conexao e um voo de trinta minutos (sem direito a maxi goiabinha), cheguei em lisboa.
obviamente, nao saquei o computador e digitei estas sabias palavras. mas foi aqui que tudo começou.
gpf, by billy. |