and think of all the stories we could have told - De todas as discussões recentes, quem mais comemora é a língua portuguesa: nunca antes neste país (sic) um prefixo foi tão discutido e comentado. Apartidários e antipartidários, anotem aí -- boa pauta para as redações dos vestibulares deste ano.
Temos um histórico de perseguição política. Nesse contexto, devo admitir que essa discussão é válida sim, e agradeço a todos os amigos que me fizeram, enfim, relembrar que a liberdade partidária é necessária, independente da sua bandeira. É notável, contudo, que uma mensagem simples e que está na cara de todo mundo, mas que, entre esquerdas e direitas, poucos comentem:
1) O povo é apartidário: de acordo com dados do fim de 2012, 15 milhões de brasileiros são filiados, ou seja, menos de 10% da população é representada oficialmente por um partido. ( TSE, filiados)
2) O povo está sobre-representado: de todos os filiados, 2/3 são representados por 7 partidos (PMDB, PT, PP, PSDB, PDT e DEM) dentre os 29 partidos existentes no Brasil, e isso sem contar os outros 20 que estão em processo de criação ( TSE, Partidos Políticos, TSE, Partidos em Formação)
3) A direita é quase insignificante no Brasil: dos 29 partidos que temos, apenas 4 (PP, DEM e os menores PSC e PR) são "de direita". Nada menos do que 18 partidos estão centralizados (com ou sem tendência) e outros 7 se declaram de esquerda. (Será que alguém viu alguma bandeira destes partidos por aí?)
4) A esquerda é quase insignificante: 5 dos 7 partidos de esquerda estão entre os seis menores partidos do Brasil. (Adivinhem se as bandeiras dos partidos que foram impedidas de flamular estão neste grupo...)
Em resumo, o Brasil é um grande não-caga-nem-sai-da-moita político. Joaquim Barbosa resumiu bem isso.
Devemos, sim, respeitar a diversidade política; devemos tomar cuidado, sim, com o poder da mídia em apresentar as notícias da forma que melhor lhes convém; mas, deixando a perseguição de lado e lançando a dúvida que me incomoda: como que o povo pode se posicionar contra um instrumento que não é mais reconhecido pelo próprio povo como movimento de reforma?
Fica como dica a entrevista de Lindbergh Farias, ex-líder dos caras pintadas. A propósito, senador pelo PT…
hold your horses now - Menos de 24 horas depois, o contexto já mudou. Já ficou claro que (1) o objetivo do MPL não é abraçar o mundo e todas as suas vontades, mas sim os 20 centavos e apenas os 20 centavos; e (2) parte do povo que foi pra rua segunda já descobriu que não quer ser mais representado apenas pelo movimento que foi pra rua terça, porque quer o resto dos 20 centavos.
Como já comentei antes, o grande trunfo do da manifestação de segunda (unir o povo) era também sua maior fraqueza (se o MPL sabia, a maior parte do povo não sabia pelo que estava na rua). A partir de agora, com o surgimento de novos movimentos, o que era fraqueza vira trunfo, e vice-versa.
As implicações são várias, mas tome por exemplo a lista de objetivos publicada pelo Anonymous: (1) Não à PEC 37; (2) Saída imediata de Renan Calheiros; (3) Investigação e punição de irregularidades nas obras da Copa, pela PF e pelo MP; (4) Lei que torne corrupção no congresso crime hediondo; (5) Fim do foro privilegiado. Uma boa lista para começar, sem dúvida, mas não são bandeiras que solucionam de maneira direta os problemas primordiais das classes mais necessitadas.
É agora que os objetivos começam a se cruzar. Resta saber em quais objetivos o povo realmente acredita, e acha que deve priorizar; no quanto a população está disposta a não desistir e continuar indo para a rua, dia após dia; em equilibrar os movimentos para não pulverizar a inércia quebrada até agora; e, acreditem ou não, no quanto estes movimentos trocarão "fogo amigo" devido à guerra de egos de dois (ou mais) grupos distintos.
Só espero que o povo - sem divisão - perceba que realmente se juntar é a única conta em que um mais um dá três.
love is our resistance - Prometi que não comentaria nada até ir a uma das manifestações e ver, com meus próprios olhos, para tirar uma opinião. Dito e feito.
A despeito do que aconteceu em outras cidades, gostei muito do que vi em SP. É bom ver o povo descobrindo que tem poder -- afinal, quem estava nas ruas em sua grande maioria não participou nem dos caras pintadas -- e pode mostrar isso se desvencilhando (como possível) da imagem inicial de baderneiros, bagunceiros e, melhor ainda, de vínculos partidários - tanto os grandes e travados, como os pequenos de fracas ideologias.
Apoio e continuarei apoiando. Entretanto, no final das contas, foi um amigo do Salgado que nem estava aqui que resumiu a maior parte do que tenho na mente. Reproduzo aqui o comentário:
"(...) Realmente fiquei feliz em ver que tanta gente realmente saiu as ruas pelos seus direitos, independente de partidos e classes sociais. Quando percebi que as manifestações não eram pelos 20 centavos e sim por toda a palhaçada que ocorre no país, as atitudes começaram a fazer sentido para mim.
Mas é ai que começa o meu "medo". Se os protestos não são mais pelo aumento da passagem, são contra o que? O que estamos reivindicando? Sim, são condições melhores em todas as áreas, mas o que vai nos levar a parar as manifestações? Antes tinha eleições diretas, impeachment, e hoje? Qual o objetivo pontual? O meu medo é que, caso as tarifas recuem (o que eu acho improvável), as manifestações irão acabar, como os próprios "organizadores" já disseram. E aí, o que vem depois? Nada. Continua tudo igual. A solução desse problema? Não sei, talvez parar de pedir pelo recuo das taxas e passar a exigir pontos politicamente relevantes, como a "anulação" da PEC 37, ou leis mais rígidas contra corrupção, não sei.
O meu medo é que o gigante tenha acordado, vá no banheiro e volte a dormir."
gpf, by billy. |