spoilers, spoilers, spoilers, SPOILERS!
Dêem uma olhada no texto abaixo. Vale a pena pensar que nem sempre a vida é uma merda, mas muitas vezes as coisas ruins são apenas detalhes. Como aconteceu comigo, atualmente eu estou com um monitor mais velho que meu irmão que só roda 640x480 - logo eu, que sou um lutador adepto do 1024x768 pra cima. Fiquei nervoso, claro, mas podia ser pior. Think about it. (Viu, Bio? =P)
Cursed - by BillySky
Perdeu o horário. Já haviam se passado quase uma hora de quando deveria estar no trabalho quando ele olhou no rádio-relógio. Sua reação não foi algo muito comentável, e mesmo após tudo ele resolveu não aparecer no trabalho - afinal, era o terceiro dia seguido em que o ocorrido acontecia... seu caminho deveria ser a rua, indo ou não para o trabalho. Então, para que se dar ao trabalho?
Olhou para o lado. Não achou sua carteira nem seu relógio de pulso. 'Ótimo, agora a prostituta me roubou. Não devia ter confiado nela quando ela me pediu para tomar aquele cafezinho que ela tinha feito', balbuciou. Como já estava na merda mesmo, foi tomar um banho. Não que isso tenha sido das melhores saídas, pois acabara por chutar o degrau do box, cair e, com isso, levar consigo a cortina de plástico e o suporte. Aliás, além da queda ainda teve que se contentar com o fato do suporte ter criado tamanho galo em sua cabeça. Mas, mesmo assim levantou-se e tomou banho. Alagou o banheiro inteiro, mas tudo bem. Pelo menos estava pronto para o dia que ainda estava começando.
Não tomou café porque não havia mais nada para se comer - sua despensa havia queimado apóso arroz de ontem. Preferiu nem entrar no mérito de lembrar os bombeiros rindo após controlarem o fogo na sua cozinha. Mas, tudo bem, foi andando até a padaria para comer um pingado. Quase foi atropelado - duas vezes - mas parecia decidido a continuar vivo. Sua vida não estava tão ruim assim. Chegando lá, tomou o pingado, comeu um pão com manteiga na chapa e, ao pagar, reparou que tinha esquecido o dinheiro em casa. Sem problemas, é só pendurar mais uma vez, como vem fazendo sempre. Mas, desta vez, o padeiro foi mais esperto e, como ele não tinha nada pra fazer, forçou o coitado a lavar os copos e pratos da manhã. Ganhou, ao menos, uma diversão.
Conseguiu sair ao início da tarde. O padeiro, por piedade, ainda ofereceu um pão com mortadela a ele - por conta da casa. O dia não estava tão ruim assim, afinal. Voltou pra casa e, ao reparar que havia deixado a casa aberto - afinal, ele só ia até a padaria - e haviam roubado sua televisão. Somente a televisão, ou seja, o único resto de diversão que ele achou que lhe havia sobrado. Ligou o ventilador, pegou uma 'palavras cruzadas' que estavam ali do lado da poltrona e começou a entreter-se. Ficou ali a tarde inteira, empacado na última palavra - afinal, esta seria a última chance de provar para si mesmo que ele ainda prestava para alguma coisa. Não conseguiu.
Ainda assim, teve força de vontade o bastante para não pensar em suicídio. Subiu as escadas, foi para o quarto e sentou-se na sua mesinha. Resolveu escrever uma carta para sua mãe, agora já bem velhinha. Pegou o papel sulfite, colocou-o sobre a mesa e preparava-se para escrever algo bem horrível, como por exemplo, o dia de hoje. Pegou a caneta, a qual ele reparou que havia estourado ao abrir a tampa. A mancha de tinta em sua mão provoucou raiva o bastante para ele começar a golpear a mesa e, assim, carimbar a - última! - folha de papel sulfite com a própria mão. Com o abalo, o corretor líquido escorreu para fora da mesa e caiu, aberto, em cima de sua cama. A reação em cadeia era tão grande que ele levantou-se de seu banquinho e bateu a cabeça na luminária e, ao cair, ainda se chocou novamente com a mesa e no banquinho, o qual lhe causor dores imensas nas costas. Após liberar um sonoro 'Puta que o pariu!', a luminária que estava cambaleando pendeu para a frente e caiu em cima do coitado, criando-lhe mais um hematoma. Não bastasse isso, o corretor líquido que estava parado na cama começou a se mover e foi à beirada da cama, onde começou a pingar nos olhos dele. Pior não poderia ser. Poderia?
Levantou-se e correu para o banho. Seus olhos estavam em brasas. Claro que, devido à sua sorte, ele não se lembrou de que a cortina e o suporte do box continuavam no chão, o que resultou-lhe uma queda violenta no banheiro. Pensou em ficar ali, até acordar daquele pesadelo, mas ainda assim teve forças para se levantar e tomar um banho. Ficou ali uns 30 minutos, acho que era o bastante para aquele azar escoar dele. Mesmo tomando dois choques no chuveiro elétrico ele achou que estava curado. Saiu cuidadosamente do banheiro e preferiu nem olhar para o estado de seu quarto agora. Enxugou-se, foi para o quarto e se vestiu. Desceu as escadas, foi para fora e começou a olhar para cima, para ver se não havia nenhum piano ou bigorna caindo. Claro que não havia nada para cima, mas embaixo certamente havia uma briga entre o cachorro e o gato da vizinha, fato pelo qual o cachorro lhe deu um rapa e ele caiu, novamente, no chão. Desta vez havia preferido não levantar.
Ficou olhando para o céu... estava estrelado e bonito. Parecia que tudo estava em harmonia no espaço sideral. Pensando um pouco mais, parecia que tudo aquilo que havia acontecido com ele não era nada, mesmo com os calos e hematomas doendo às pampas. O telefone tocava, e ele não atendeu... estava em alfa. Seu karma se entendia com o seu dogma, mesmo achando que eles estavam em plena luta de boxe anteriormente. O telefone continuava a tocar, e ele se recusava a sair daquilo que parecia a saída de todos os seus problemas. Não fosse o cachorro a dar uma patada em seu saco escrotal, ele havia ficado ali para sempre. Assim, resdlveu levantar e atender o telefone. Uma voz feminina, do outro lado, falou:
- Roberto?
- É ele! - retrucou.
- Oi, erm, bem.... aqui é a Mariana.
- Mariana... Benzegolli, certo?
- Isso! Tudo bem com você?
- Tudo na santa paz! E com você?
- Vamos indo... eu estava pensando, você vai fazer algo esta noite?
- Não creio. Gostaria de ir a algum lugar?
- Por que não? Vem pra cá. Daqui a gente decide.
- Então está. Até mais!
- Tchau!
E, assim, desligou o telefone. Estava ainda meio zonzo dos fatos que haviam acontecido pelo dia inteiro. Relembrou passo a passo o que havia acontecido naquele horrível dia, mas sabia que havia marcado um encontro com aquela que adorava há um bom tempo. Horrível? Que nada. Tudo eram detalhes. Saiu de casa, foi andando em direção a esquina e parou, do nada. Olhou para cima e gritou:
- Obrigado, meu Senhor, pelo melhor dia de minhas vidas!
Auto-Reverse - by BillySky
A gente tem mania de se contentar com o passado. Não, fala sério, tem mania sim. 'Ah, como antes era melhor, patati, patata...'. Agora vocês pensam : 'Oh! Como é que um nostálgico, um saudosista como o Billy está falando uma coisa dessas?' e eu digo que é simples.
Em princípio, falta 1 ano para eu concluir o curso de inglês e pegar o meu diploma na escola aqui. Até agora, foram seis anos de estudos no mesmo colégio. Forçados ou não, não vem ao caso. Atualmente eu tenho um certo conhecimento de inglês. Mas, tirando o primeiro ano (que eu estudei de manhã nesse colégio), todos os outros cinco anos foram feitos com uma turma só. Praticamente as mesmas pessoas. Não, as mesmas pessoas não porque daquele grupo muito legal apenas três estavam e se mantiveram desde o início - eu, Flávio e Letícia.
Pra falar a verdade, eu não estava desde o início. Apenas os dois já citados, mas eu fui a pessoa que entrou um ano depois do início desse grupo e se manteve até o final. E mais, pode-se destacar do resto porque tinhamos algo em comum. Não a idade, pois Letícia tem, hoje, 18 e o Flavinho, 23 - não tenho certeza em ambos - mas talvez o fato de, nos últimos 3 anos juntos, nós fazíamos sempre o mesmo percurso de volta.
Flavinho é estudante de Ciência da Computação. Não, não há motivo para eu chamá-lo de Flavinho, é modo de falar mesmo =P Ele sequer é mais novo que eu! Mas, anyway. Sempre informado, conhecedor de várias linguagens e sistemas, tinha sempre uma conversa. Era amigo de todos, de bem com tudo. Corria pra caramba... mas tudo bem. São coisas da vida. A Letícia sempre foi o inverso do Flávio - é muito extrovertida, curte fazer tudo e está sempre procurando alguma coisa nova para fazer, ou então indo para as baladas, danças e tudo o mais. Para ela tudo estava sempre bom. E eu, heck, vocês sabem quem sou eu.
Isso não é uma descrição do passado, são características deles ainda. Mas o fato é que é um tempo que se passou. Naquela época, praticamente todo final de aula saíamos para pegar o busão. E fazia o mesmo caminho, e sempre tinha algo novo para falar, para discutir. Depois que pegávamos o ônibus, eu descia primeiro e, em seguida, ia a Letícia e o Flávio. As vezes, quando o tempo (meteorologia e horário) ajudava íamos a pé mesmo. Afinal, aqui perto e longe é relativo =P Mas era uma rotina que não cansava. Todo dia era igual ao outro, mas era algo que não cansava. E assim o tempo passava...
Há um ano atrás, o Flavinho estava procurando um trabalho. Achou, depois de alguns meses, e no último semestre do ano passado ele não fazia mais curso conosco - era mais prático fazer durante as férias da faculdade o curso compacto. E nisso, o último semestre do ano passado se tornou um pouco mais vazio. Sim, continuava eu e Letícia voltando pelo mesmo caminho, mas alguma coisa faltava. Eramos felizes e não sabiamos. Aquela rotina, que depois de tanto tempo impunha uma condição de despreocupação, agora estava modificada. Modificado, sim, porque ela veio a ser novamente modificada esse semestre, pois Letícia também está em faculdade e tudo o mais, e fiquei só eu seguindo a mesma rotina.
Quarta eu estava voltando e pensando nisso. Como isso daria margem para mais um texto saudosista - como a maioria dos meus outros - mas não havia algo a ser discutido. Era uma simples situação que provavelmente não importaria a qualquer um que a lesse. Olhei para cima, para os lados, para a rua... continuavam o mesmo. O que será que aquelas ruas já devem ter observado? Quantos prédios já viram aquelas tantas rotinas se construirem e se destruirem? E, então segui o meu caminho. O mesmo caminho de tanto tempo, só que agora trilhado sozinho. Eu era feliz e não sabia...
... e, assim, o texto poderia ter terminado. Mas eu não poderia tê-lo deixado assim porque senão ele não tocaria onde eu queria. Hoje, saindo do ônibus, numa esquina do Gonzaga eu vejo o Flavinho.
- Pô, cara, como é que você tá?
- Tudo certo, tô trampando lá na cidade, e o pessoal lá no inglês?
- Agora desmanchou tudo... mas não tem grilo não. E o boliche não saiu ano passado!
- Mas não tem grilo não... a gente marca. Tá vindo de onde?
- Tô vindo de casa, tava indo em direção ao canal... e você?
- Tô saindo do dentista...
(...)
- Então, cara, quando puder dá uma ligada!
- Claro! Por que não?
- Beleza! Até mais!
- Falou!
E o que tem de mais? Oras, se continuássemos na mesma rotina, essa seria uma breve conversa. Não haveria a necessidade de relembrar momentos passados. Seria um 'Opa, tudo certo', 'Tudo certo, até mais', 'Tchau' ... e é pra isso que serve a nostalgia. Para criar esses vinte (VINTE!) minutos de alegria na vida de alguém. Para relembrar que em algum momento da sua vida você já foi feliz e que, apesar disso, você ainda o é. Para lembrar que se a gente só vivesse em coisa boa, não teria noção do quão bom isso seria. E é assim que se cultiva a nostalgia.
Tudo muda. Não temos a vontade mas somos obrigados a mudar. As vezes para a melhor, as vezes para a pior... somos obrigados. Porque não reviver os bons momentos? Afinal, viver do passado não dá. Mas por que não transformar o passado em presente? Deixar as coisas boas predominarem? NostalgieRevolution, porque o que é bom não precisa acabar logo!
gpf, by billy. |