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e meio.

sexta-feira, fevereiro 15, 2002

Cursed - by BillySky

Perdeu o horário. Já haviam se passado quase uma hora de quando deveria estar no trabalho quando ele olhou no rádio-relógio. Sua reação não foi algo muito comentável, e mesmo após tudo ele resolveu não aparecer no trabalho - afinal, era o terceiro dia seguido em que o ocorrido acontecia... seu caminho deveria ser a rua, indo ou não para o trabalho. Então, para que se dar ao trabalho?

Olhou para o lado. Não achou sua carteira nem seu relógio de pulso. 'Ótimo, agora a prostituta me roubou. Não devia ter confiado nela quando ela me pediu para tomar aquele cafezinho que ela tinha feito', balbuciou. Como já estava na merda mesmo, foi tomar um banho. Não que isso tenha sido das melhores saídas, pois acabara por chutar o degrau do box, cair e, com isso, levar consigo a cortina de plástico e o suporte. Aliás, além da queda ainda teve que se contentar com o fato do suporte ter criado tamanho galo em sua cabeça. Mas, mesmo assim levantou-se e tomou banho. Alagou o banheiro inteiro, mas tudo bem. Pelo menos estava pronto para o dia que ainda estava começando.

Não tomou café porque não havia mais nada para se comer - sua despensa havia queimado apóso arroz de ontem. Preferiu nem entrar no mérito de lembrar os bombeiros rindo após controlarem o fogo na sua cozinha. Mas, tudo bem, foi andando até a padaria para comer um pingado. Quase foi atropelado - duas vezes - mas parecia decidido a continuar vivo. Sua vida não estava tão ruim assim. Chegando lá, tomou o pingado, comeu um pão com manteiga na chapa e, ao pagar, reparou que tinha esquecido o dinheiro em casa. Sem problemas, é só pendurar mais uma vez, como vem fazendo sempre. Mas, desta vez, o padeiro foi mais esperto e, como ele não tinha nada pra fazer, forçou o coitado a lavar os copos e pratos da manhã. Ganhou, ao menos, uma diversão.

Conseguiu sair ao início da tarde. O padeiro, por piedade, ainda ofereceu um pão com mortadela a ele - por conta da casa. O dia não estava tão ruim assim, afinal. Voltou pra casa e, ao reparar que havia deixado a casa aberto - afinal, ele só ia até a padaria - e haviam roubado sua televisão. Somente a televisão, ou seja, o único resto de diversão que ele achou que lhe havia sobrado. Ligou o ventilador, pegou uma 'palavras cruzadas' que estavam ali do lado da poltrona e começou a entreter-se. Ficou ali a tarde inteira, empacado na última palavra - afinal, esta seria a última chance de provar para si mesmo que ele ainda prestava para alguma coisa. Não conseguiu.

Ainda assim, teve força de vontade o bastante para não pensar em suicídio. Subiu as escadas, foi para o quarto e sentou-se na sua mesinha. Resolveu escrever uma carta para sua mãe, agora já bem velhinha. Pegou o papel sulfite, colocou-o sobre a mesa e preparava-se para escrever algo bem horrível, como por exemplo, o dia de hoje. Pegou a caneta, a qual ele reparou que havia estourado ao abrir a tampa. A mancha de tinta em sua mão provoucou raiva o bastante para ele começar a golpear a mesa e, assim, carimbar a - última! - folha de papel sulfite com a própria mão. Com o abalo, o corretor líquido escorreu para fora da mesa e caiu, aberto, em cima de sua cama. A reação em cadeia era tão grande que ele levantou-se de seu banquinho e bateu a cabeça na luminária e, ao cair, ainda se chocou novamente com a mesa e no banquinho, o qual lhe causor dores imensas nas costas. Após liberar um sonoro 'Puta que o pariu!', a luminária que estava cambaleando pendeu para a frente e caiu em cima do coitado, criando-lhe mais um hematoma. Não bastasse isso, o corretor líquido que estava parado na cama começou a se mover e foi à beirada da cama, onde começou a pingar nos olhos dele. Pior não poderia ser. Poderia?

Levantou-se e correu para o banho. Seus olhos estavam em brasas. Claro que, devido à sua sorte, ele não se lembrou de que a cortina e o suporte do box continuavam no chão, o que resultou-lhe uma queda violenta no banheiro. Pensou em ficar ali, até acordar daquele pesadelo, mas ainda assim teve forças para se levantar e tomar um banho. Ficou ali uns 30 minutos, acho que era o bastante para aquele azar escoar dele. Mesmo tomando dois choques no chuveiro elétrico ele achou que estava curado. Saiu cuidadosamente do banheiro e preferiu nem olhar para o estado de seu quarto agora. Enxugou-se, foi para o quarto e se vestiu. Desceu as escadas, foi para fora e começou a olhar para cima, para ver se não havia nenhum piano ou bigorna caindo. Claro que não havia nada para cima, mas embaixo certamente havia uma briga entre o cachorro e o gato da vizinha, fato pelo qual o cachorro lhe deu um rapa e ele caiu, novamente, no chão. Desta vez havia preferido não levantar.

Ficou olhando para o céu... estava estrelado e bonito. Parecia que tudo estava em harmonia no espaço sideral. Pensando um pouco mais, parecia que tudo aquilo que havia acontecido com ele não era nada, mesmo com os calos e hematomas doendo às pampas. O telefone tocava, e ele não atendeu... estava em alfa. Seu karma se entendia com o seu dogma, mesmo achando que eles estavam em plena luta de boxe anteriormente. O telefone continuava a tocar, e ele se recusava a sair daquilo que parecia a saída de todos os seus problemas. Não fosse o cachorro a dar uma patada em seu saco escrotal, ele havia ficado ali para sempre. Assim, resdlveu levantar e atender o telefone. Uma voz feminina, do outro lado, falou:

- Roberto?
- É ele! - retrucou.
- Oi, erm, bem.... aqui é a Mariana.
- Mariana... Benzegolli, certo?
- Isso! Tudo bem com você?
- Tudo na santa paz! E com você?
- Vamos indo... eu estava pensando, você vai fazer algo esta noite?
- Não creio. Gostaria de ir a algum lugar?
- Por que não? Vem pra cá. Daqui a gente decide.
- Então está. Até mais!
- Tchau!

E, assim, desligou o telefone. Estava ainda meio zonzo dos fatos que haviam acontecido pelo dia inteiro. Relembrou passo a passo o que havia acontecido naquele horrível dia, mas sabia que havia marcado um encontro com aquela que adorava há um bom tempo. Horrível? Que nada. Tudo eram detalhes. Saiu de casa, foi andando em direção a esquina e parou, do nada. Olhou para cima e gritou:

- Obrigado, meu Senhor, pelo melhor dia de minhas vidas!

12:40 PM.

 

 

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