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e meio.

sexta-feira, fevereiro 08, 2002

Auto-Reverse - by BillySky

A gente tem mania de se contentar com o passado. Não, fala sério, tem mania sim. 'Ah, como antes era melhor, patati, patata...'. Agora vocês pensam : 'Oh! Como é que um nostálgico, um saudosista como o Billy está falando uma coisa dessas?' e eu digo que é simples.

Em princípio, falta 1 ano para eu concluir o curso de inglês e pegar o meu diploma na escola aqui. Até agora, foram seis anos de estudos no mesmo colégio. Forçados ou não, não vem ao caso. Atualmente eu tenho um certo conhecimento de inglês. Mas, tirando o primeiro ano (que eu estudei de manhã nesse colégio), todos os outros cinco anos foram feitos com uma turma só. Praticamente as mesmas pessoas. Não, as mesmas pessoas não porque daquele grupo muito legal apenas três estavam e se mantiveram desde o início - eu, Flávio e Letícia.
Pra falar a verdade, eu não estava desde o início. Apenas os dois já citados, mas eu fui a pessoa que entrou um ano depois do início desse grupo e se manteve até o final. E mais, pode-se destacar do resto porque tinhamos algo em comum. Não a idade, pois Letícia tem, hoje, 18 e o Flavinho, 23 - não tenho certeza em ambos - mas talvez o fato de, nos últimos 3 anos juntos, nós fazíamos sempre o mesmo percurso de volta.
Flavinho é estudante de Ciência da Computação. Não, não há motivo para eu chamá-lo de Flavinho, é modo de falar mesmo =P Ele sequer é mais novo que eu! Mas, anyway. Sempre informado, conhecedor de várias linguagens e sistemas, tinha sempre uma conversa. Era amigo de todos, de bem com tudo. Corria pra caramba... mas tudo bem. São coisas da vida. A Letícia sempre foi o inverso do Flávio - é muito extrovertida, curte fazer tudo e está sempre procurando alguma coisa nova para fazer, ou então indo para as baladas, danças e tudo o mais. Para ela tudo estava sempre bom. E eu, heck, vocês sabem quem sou eu.
Isso não é uma descrição do passado, são características deles ainda. Mas o fato é que é um tempo que se passou. Naquela época, praticamente todo final de aula saíamos para pegar o busão. E fazia o mesmo caminho, e sempre tinha algo novo para falar, para discutir. Depois que pegávamos o ônibus, eu descia primeiro e, em seguida, ia a Letícia e o Flávio. As vezes, quando o tempo (meteorologia e horário) ajudava íamos a pé mesmo. Afinal, aqui perto e longe é relativo =P Mas era uma rotina que não cansava. Todo dia era igual ao outro, mas era algo que não cansava. E assim o tempo passava...
Há um ano atrás, o Flavinho estava procurando um trabalho. Achou, depois de alguns meses, e no último semestre do ano passado ele não fazia mais curso conosco - era mais prático fazer durante as férias da faculdade o curso compacto. E nisso, o último semestre do ano passado se tornou um pouco mais vazio. Sim, continuava eu e Letícia voltando pelo mesmo caminho, mas alguma coisa faltava. Eramos felizes e não sabiamos. Aquela rotina, que depois de tanto tempo impunha uma condição de despreocupação, agora estava modificada. Modificado, sim, porque ela veio a ser novamente modificada esse semestre, pois Letícia também está em faculdade e tudo o mais, e fiquei só eu seguindo a mesma rotina.
Quarta eu estava voltando e pensando nisso. Como isso daria margem para mais um texto saudosista - como a maioria dos meus outros - mas não havia algo a ser discutido. Era uma simples situação que provavelmente não importaria a qualquer um que a lesse. Olhei para cima, para os lados, para a rua... continuavam o mesmo. O que será que aquelas ruas já devem ter observado? Quantos prédios já viram aquelas tantas rotinas se construirem e se destruirem? E, então segui o meu caminho. O mesmo caminho de tanto tempo, só que agora trilhado sozinho. Eu era feliz e não sabia...

... e, assim, o texto poderia ter terminado. Mas eu não poderia tê-lo deixado assim porque senão ele não tocaria onde eu queria. Hoje, saindo do ônibus, numa esquina do Gonzaga eu vejo o Flavinho.
- Pô, cara, como é que você tá?
- Tudo certo, tô trampando lá na cidade, e o pessoal lá no inglês?
- Agora desmanchou tudo... mas não tem grilo não. E o boliche não saiu ano passado!
- Mas não tem grilo não... a gente marca. Tá vindo de onde?
- Tô vindo de casa, tava indo em direção ao canal... e você?
- Tô saindo do dentista...
(...)
- Então, cara, quando puder dá uma ligada!
- Claro! Por que não?
- Beleza! Até mais!
- Falou!

E o que tem de mais? Oras, se continuássemos na mesma rotina, essa seria uma breve conversa. Não haveria a necessidade de relembrar momentos passados. Seria um 'Opa, tudo certo', 'Tudo certo, até mais', 'Tchau' ... e é pra isso que serve a nostalgia. Para criar esses vinte (VINTE!) minutos de alegria na vida de alguém. Para relembrar que em algum momento da sua vida você já foi feliz e que, apesar disso, você ainda o é. Para lembrar que se a gente só vivesse em coisa boa, não teria noção do quão bom isso seria. E é assim que se cultiva a nostalgia.

1:40 AM.

 

 

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