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e meio.

quarta-feira, dezembro 04, 2002

prólogo
Time is never time at all
You can never ever leave without leaving a piece of youth
And our lives are forever changed
We will never be the same
The more you change the less you feel

- Smashing Pumpkins, Tonight Tonight

»» Downstairs
O quarto fechado. Gritos? Até existiam, mas eles se perdiam na poluição sonora daquele movimentado bairro. Não faria diferença para as outras pessoas, apenas para aqueles dois envolvidos. Ele e ela. No entanto, a discussão denuncia um revólver, e o revólver denuncia um tiro que cala toda a rebeldia naqueles sons que rondavam o ambiente. Ele saiu, meio zonzo, sem entender o que tinha acabado de acontecer - mas a mancha de sangue no chão do quarto não deixava qualquer dúvida. Morte. Resolveu descer um pouco, ir até a padaria tomar alguma coisa só para deixar o momento passar. Estranho é que, naquele momento, o tempo parecia estar parado. Na verdade, ele devia estar mesmo, pois até o elevador - quebrado, ou em manutenção, ele não soube explicar - não dava resposta. Sem saída, rumou à escada e desceu, nas trevas. Aliás, as trevas são boas acalentadoras de pensamentos e filosofias... este não fugiu à exceção.
Lutara por aquele relacionamento. 20 anos de batalhas - externas, não internas - o caracterizavam como pessoas diferenciadas quando se trata de mundo moderno. Afinal, bah, o que era um casamento hoje em dia? Apesar dos esforços para manter o casamento, acabara cedendo também às tentações de algumas mulheres no meio do caminho. Não era grande coisa, eram simples desvios de uma instituição muito maior e mais forte. Não era uma pessoa muito presente, é verdade, mas ao chegar em casa via sempre a luz da verdade nos olhos de sua mulher. Acreditava estar sempre retribuindo da forma que podia, mas não conseguia distinguir as ironias das verdades de sua mulher. Não era muito mestrado na arte de entender as mulheres, como a maior parte dos homens, mas isso não deve caracterizar um defeito nele. Sabia que tinha feito o melhor que podia, pelo menos na sua concepção. Não podia acreditar que havia acabado assim.
O caminho até lá embaixo era longo e ainda custava uma série de arrependimentos e colocações. Não tinham filhos, mas lembrava dos apelos da mulher para que isso se concretizasse. Bloqueada sempre nas vontades do marido, acabara se tornando uma pessoa apática, isolada, mas que em raros momentos se apresentava na sua real forma para ele, e menos ainda para as outras pessoas. Seu reservatório ainda era grande, poderia aguentar muito. Aguentou? Não se sabe. Para tudo, ele acreditava ter motivos que justificassem. A vida dura, o dinheiro escasso, a falta de vontade. Sempre ele sobreposto a ela. Será que até no momento final ele tinha feito a vontade dele se sobrepor à dela? Desviou o pensamento e não deu uma resposta. Tinha chego a seu destino, e nem se deu ao trabalho de abrir a porta - simplesmente atravessou-a. O calor das chamas era confortável demais para deixar uma alma rumando por aí, a esmo.

3:59 PM.

 

 

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