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e meio.

domingo, setembro 15, 2002

egocentrismo
___ você alguma vez já pensou em que, pelo menos uma particularidade ou característica do mundo, fosse controlada única e exclusivamente por você ou por alguma atitude sua? pois foi assim que ele se sentiu, ao chegar na praia. não era grande o caminho entre ali e sua casa, mas era uma coisa que ele não fazia há muito. precisava daquilo há muito, e não sabia por quê não o havia feito ainda. era como normalmente acontece com o ser humano - geralmente as verdades estão sempre próximas e muito visíveis, mas o medo de querer enxergá-las e admiti-las é tão grande que você acaba por querer esquecer delas. mas, de qualquer forma, naquele momento ele achava que sua cabeça controlava o tempo. um céu cinzento, com um clima levemente frio e movimentado pelo vento, o mar quebrando fortemente e a praia sendo engolida pelas ondas era mais ou menos o reflexo do que se passava pela sua cabeça naquele momento: descontrole, revolta, tristeza. no fundo de tudo a tristeza, aquele ambiente branco-e-preto causado pelas suas desavenças com o mundo. pensamentos que iam e voltavam, como a força do mar em engolir a praia, os pensamentos bons que ainda lhe restavam. estava prestes a caminhar pelo seu próprio ambiente, sua própria cabeça.

"in case you ever heard i'm sick, i'm tired of trying"
___ o caminho não era extenso, algo na faixa dos 6000m - nada que a vontade de não querer olhar para trás não o empurasse. estava disposto para ali, naquele momento, encontrar respostas - ou, pelo menos, disposição e força de vontade para encarar aquelas que à sua volta estavam. mas, como vocês podem esperar, ele talvez tenha encontrado mais do que isso. não havia nem chegado ainda ao primeiro posto, marcas de cada 1km andado, quando reparou em um solitário vendedor de algodão-doce passando ao seu lado. nas pontas dos doces, balões infláveis - talvez bexigas explicite um pouco mais o retrocesso pensativo do nosso protagonista - rosas e amarelos, iguais aos doces. Ainda fez um comentário para si mesmo: "ah, eu vou comprar um algodão-doce simplesmente para pegar a bexiga!", porém acabou por reparar o quão infeliz e impróprio tinha sido o seu comentário pois, sabia que em tempos mais inocentes, seria exatamente esse o pensamento dele, a simples alegria de ter um balão nas mãos. acabou por chamar o vendedor, que aparentava bastante idade - talvez mais do que ele próprio - e comprou dois, deixando o troco com o homem. "aproveite a vida, jovem, Deus te guie" foi o que ele ouviu como agradecimento, o que foi um choque maior do que ele poderia esperar. olhou para o algodão-doce e viu àquela bexiga, a qual ele começou a encher. ela crescia, crescia... em um certo momento a bexiga já estava em um tamanho no qual ele poderia ver o seu reflexo, e não um simples reflexo - ele via a si mesmo muitos anos atrás. sabia que em alguma época da sua vida sua alegria era ter aquele balão na mão, movimentando-se alegremente pelos ares. tristeza era ver aquele balão fugir, ou ainda mesmo estourar. coisas que, para um garoto de poucos anos, era infinitamente maior do que saber se o dólar estava em alta ou se ele tinha que pagar o IPTU da sua casa. e o balão enchia, e vinham cada vez mais lembranças de uma época feliz e alegre, à qual não poderia voltar mais. mas, por que não? por que alegria era somente naquela época? neste momento, o balão estourou e ele encontrou sua realidade novamente. começou a degustar um dos algodões, e notou que há muito ele tinha desaprendido a comer aquilo. como era divertido!

"if Columbus was right, i'd drive straight to the edge"
___ nem havia reparado, mas já passava pelo posto 3, ou seja, metade do seu caminho de ida tinha se ido da mesma forma que aquele jornal voava com o vento (interessante colocar que o tempo daquele dia parece estar exatamente caracterizado na música "vento no litoral", do legião urbana). apesar de tudo que já havia se passado, ele ainda tinha em mente que estava ali por um motivo e para este ele ainda não tinha respostas suficientes. estava descontente, mesmo posteriormente analizando e vendo que aquele momento de reflexão teria dado novos alicerces para sua vida. continuo andando, o vento parecia querer impedí-lo de prosseguir mas ele estava a caminho de algo muito maior e mais importante do que tudo. claro que, novamente, essa perspectiva lhe foi interrompida pela atenção que um senhor e uma criança, provavelmente avô e neto, lhe atraira. ele, de alguma forma, encaixaria perfeitamente como o elo entre os dois, filho e pai ao mesmo tempo, mas centrara o pensamento e reparar como o senhor, já relativamente limitado, brincava e queria a alegria daquele netinho tão estimado. aproximou-se do garoto e ofereceu aquele algodão-doce extra que havia comprado. a bexiga brilhou nos olhos daquele garotinho e ele rapidamente pegou, sendo isto seguido por um sorriso de compreensão do vovô e as palavras: "agradeça a ele, meu netinho!" e, posteriormente, "obligadu, titiu!". comprovaria, naquele momento, tudo o que tinha imaginado na experiência anterior. sabia que aquela alegria era sincera mas, pela primeira vez, notava o como aquilo era recíproco, o quanto aquilo também o preenchia. não precisara ser criança novamente para reencontrar a felicidade, e sim agir de um modo correto. talvez o rejuvenescimento fosse uma coisa interessante e atrativa, mas sabia que cada coisa tinha o seu tempo e modo para acontecer. se tivesse que acontecer, daquele modo seria. seguiu seu caminho e, curioso, olhou para atrás. a bexiga cheia, o vovô gastando aquela energia que ainda tinha para segurar seu neto pelos ares e trocarem sorrisos... o equilíbrio perfeito.

(n.a. »» reparem o potencial que esse ambiente tem para ser clipe da mtv.)
(n.a.2 » acabei de me lembrar de tem um clipe do Pato Fu que tem algo do gênero.)

"kaeru-chan mo usagi-chan mo waratte kureru no"
(aka. my stuffed rabbit and frog smile and confort me)
___ seguiu andando com aquilo na cabeça... como é que nunca tinha reparado que a real alegria está nas coisas pequenas, nas coisas simples e sinceras? e ele com todos aqueles problemas na cabeça, achando que aquilo era o que importava e era decisivo para a sua vida ser bem sucedida... tolo. vivera e não aprendera. mas tudo bem, nunca é tarde para aprender e começara a assimilar os princípios da vida, aprender o que é preferencial do que não é, descobrir com o que se preocupar. saber que não vale saber se o amigo está disposto, e sim se ele está alegre. coisas tão visíveis, e que estiveram na sua frente por tantas vezes que ele até ficava com remorso de querer relembrar essas oportunidades perdidas. fácil fácil, a praia acabara. restava agora o caminho de volta. antes de prosseguir, parou para tomar uma água de coco e olhou para a praia que acabara de atravessar. acabou por imaginar, também, todos aqueles personagens que ele havia encontrado, olhando para ele. analizando, talvez? não, somente a imagem de que é possível mudar. que ele não havia encontrado aqueles companheiros por acaso, eles estavam ali porque assim tinha que ser, porque tinham que mudar a vida dele. pagou, então, pela água de côco e seguiu seu caminho de volta, já com outra cabeça. os raios de luz surgiam por entre as nuvens, como se uma saída para a sua mentalidade estivesse próxima a limpar o seu tempestuoso tempo mental.

"we're just two fish souls swimming in a fish bowl... year after year"
___ estranho como as mesmas coisas que um dia ele havia pensado agora costumam fazer um sentido totalmente diferente. o ponto de vista, o contexto das coisas modifica muito se você recebe diferentes influências... mas, naquele dado instante, ele ainda tinha algo em si que o impedia de mudar. ele ainda tinha aquela dúvida e, então, precisava ou esclarescê-la ou então concluir que aquela dúvida não era necessária de forma alguma para a sua vida. de qualquer uma das duas formas, ele teria o peso liberado de sua consciência e então poderia seguir o rumo que quiser... foi então quando ele viu um jovem casal sentado na praia, um encostado no outro, olhando para o mar... e simplesmente isso. eles não se moviam, não expressavam gestos absurdamente gritantes, apenas aproveitavam o momento - aproveitar? isso seria aproveitar? talvez fosse. conceitos diferentes de pessoa para pessoa, mas eles estavam em uma harmonia que ele talvez nunca tivesse encontrado. a sua dúvida, até então algo deveras cruel com ele mesmo, veio à tona - nunca conseguira encontrar alguém para si. havia tentado algumas vezes, nada lá muito significativo, mas de alguma maneira errônea acabara por concluir que o problema era sempre ele... e que, então, não servia para isso. via-se sempre no duelo de querer e não poder. lembrara-se da sua primeira tentativa, aquela que talvez tivesse roubado seu coração para sempre - não, isso era besteira. Lembrara-se do seu pai falando que ele iria casar com a primeira pessoa a qual ele gostasse, e por mais turrão que fosse no momento ele acabou por comprovar que era verdade. Mas o que importa é que naquele momento, em que ele vira sua primeira tentativa desmoronar, ele se sentiu impotente, sem movimento, sem atitude. qualquer coisa que fizesse seria o bastante para tornar as atitudes mais insensatas e piorar a situação, mas ainda assim queria que aquilo desse certo de alguma forma, e foi neste momento que ele reparou o real motivo de sua cabeça ser aquele céu cinzento e mar revolto, agora fechado novamente. estava frustrado.

"don't ever give up, my son"
___ seguiu, mas agora encontrava um novo conflito. como é que ele pode ter chegado ruim, ter melhorado significamente seu pensamento e, em questão de segundos, ter afundado naquela lama eterna novamente? o que é que há de errado? ele queria uma nova chance, queria tentar de novo, mas as circunstâncias, os motivos estavam tão fortes ao seu redor que ele se sentiria frustrado em querer alguma coisa. assumia uma atitude que era contrária às suas próprias vontades, mas que traria uma certa estabilidade. será? chorava, começou a chorar bastante. acabou por reparar em uma cadeira sozinha na praia... como se ela apenas observasse e esperasse o momento no qual ela mudaria de situação. não havia nome, não haviam pertences em volta dela, resolveu se sentar um pouco e esperar. observava o mar, os morros, as nuvens lá em cima. alguns pingos de água começavam a cair, uma fina garoa para apagar um pouco as dúvidas de alguém. imediatamente veio a imagem de seu pai... pra ser mais exato, o momento no qual seu pai - e sua mãe - morreram. ambos morreram juntos, praticamente ao mesmo tempo. morreram em paz, deixaram a vida durante o sono e de mãos dadas. aquela era uma imagem que sempre foi presente em sua vida mas que até então não lhe representara nada... naquele momento, no segundo no qual a vida virou morte, ele agora compreendia que ainda havia chance... seu pai lhe dera a aula, e ele agora entendera a lição. nunca acabou a menos que tenha chego o fim; continuar.

"que o brilho se foi embora e o seu olhar ficou mais triste... nada mudou e nunca irá mudar... me deite em paz... não quero acordar... me deixar sonhar só mais uma vez com você... quero que você saiba que sempre estará aqui, no meu peito..."
___ ingressara, agora, nos 1000m finais. estava perto da conclusão de uma jornada que ele sequer imaginara antes de começar. tudo agora parecia fazer tanto sentido... tudo por causa de uma simples mudança na forma de ver as coisas, num simples descarte de pesos desnecessários. não havia chego à uma resposta para suas dúvidas, mas tinha certeza que estava no caminho certo. iria colocar suas novas conquistas o quão rápido ele pudesse ser. então, notou que na praia estava uma figura familiar. sabia que era alguém conhecido, mas não podia então identificar quem era - estava de costas. talvez pudesse ser verdade, talvez depois de tudo o que ele tinha visto aquilo fosse a chance que ele esperava. Tudo agora fluia de uma forma tão normal, tão alegre que ele reconheceu aquela misteriosa figura - seu primeiro amor. não sabia porque corria, estava agindo como alguém muitos anos mais novo - no entanto, isso já não interessava mais. ele estava disposto a querer mudar, a alterar tudo aquilo que ele carregava de mal consigo para coisas boas, pensamentos bons com alguém bom ao lado. o vento uivava mais forte, as ondas quebravam com mais força, para que então depois acalmassem e apresentassem o equilíbrio. afinal, depois da tempestade vem a calmaria? ele corria, e chegava mais próximo, e queria aquilo, e precisava daquilo, notou que o buraco que ele tinha em si era tão grande que o desespero dele era tão gigante e que ele precisava tanto daquilo e que talvez ela também precisasse daquilo e... ele pulou agilmente em direção dela e... atravessou aquela ilusão, caindo de cara na areia e encarando a realidade fria e cruel. chovia.

"que você dizia... que ia ser para sempre... mas que agora são só lembranças..." ?
___ constatou que fora enganado por sua ambição. foi usado como um brinquedo de alguém que controla os sentimentos de alguém. sentira-se abandonado, jogado, e ali na areia ficou. abaixou a cabeça, e ali ficou, por alguns bons minutos. no mínimo uma meia hora. mas depois disso, notou que algo de diferente acontecia... ele não era mais o mesmo. resolveu levantar a cabeça e não viu mais um tempo apagado, e sim um belo dia de sol durante o verão de algum ano, não sabia qual. parecia o céu. diversão estava no ar, ele sentia que festas animadas estavam por todo lugar. deveria dar um passo fora daquela porta que o prendia, pois naquele dia ele iria acertar! e parecia o céu, naquele verão... olhou para si mesmo e não era mais aquele senhor, e sim aquela criança, aquela que agora tinha perspectivas de tentar, aquela que não lembrara do que havia acontecido mas... ganhara uma nova chance, sabia que tinha motivos agora para tentar de novo, mesmo que não pudesse explicar. acabou por reparar em um senhor que vendia algodão-doce, e qual foi o seu espanto ao ver que o vendedor deu uma leve piscadela para ele... ele não entendia, mas compreendia que aquilo faria um significado imenso para sua vida. viu os amigos jogando bola atrás dele, as garotinhas assistindo o jogo, e estava ali pronto para tentar de novo, sem medo de errar.

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bom, pra mim esse texto começou bem e terminou meio que sem sentido... eu acabei me perdendo, tenho que admitir. de qualquer forma, é um novo texto, não sei se vocês vão gostar mas whatever, foi o que minha cabeça cospiu hoje de manhã. fazia tempo que eu não escrevia assim... estava com saudades :D de qualquer forma, esse texto tem como subtítulos alguns trechos de músicas, e algumas passagens também relativas a músicas... para quem quiser saber: alkaline trio - radio /// pink floyd - wish you were here /// judy and mary - sobakasu /// milli dux - me deixa sonhar /// skafield - summer of '97. É isso. Comentários sobre o texto - pode descer o pau - são extremamente bem vindos. Abraçôncios e se cuidem.

12:50 PM.

 

 

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